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quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Mitos 2010: Histeria em Massa

Adbução por alienígenas?
  Desde as especulações selvagens nos mercados financeiros até a crença que os alienígenas estão nos visitando, nós humanos somos propensos a todo tipo de ilusões tanto pessoais quanto em massa, assim tem acontecido durante séculos…
Por que há gente que acredita em fenômenos tais como os ÓVNIS, abduções alienígenas, cirurgia psíquica e fantasmas, quando as provas são tão escassas e pouco convincentes?

Por que algumas pessoas insistem, por exemplo, que existe uma “face” em Marte quando já foi demonstrado que trata-se apenas um truque de luz e sombras. Por que há gente que acredita que os círculos nos campos de cereais são artefatos alienígenas quando os embusteiros que criaram estes engenhosos enganos já nos demonstraram como os construíram?


Circulos criados em campos de cereais

  Por que há gente que segue insistindo que existiu no passado uma civilização avançada, uma nação perdida, conhecida como Atlântida, quando há legiões de arqueólogos que afirmam categoricamente que não existe nenhuma pista ou prova da sua existência? E aqueles que acham a acupuntura ou a homeopatia conseguem tratar os grandes males da humanidadee, quando um grande número de estudos confiáveis demonstra o contrário?
Sabemos que as percepções humanas tendem a ser pouco confiáveis: simplesmente escute os testemunhos de diferentes testemunhas de um incêndio ou um acidente no trânsito e você se questionará se estão descrevendo efetivamente o mesmo evento. Mas, por que tanta gente se vê atraída pelas teorias da conspiração ou mesmo as supostas profecias do boticário francês do século XVI Michel de Nostredame (mais conhecido por todos como ‘Nostradamus’)?
Sabemos, ao longo da história, que as ilusões coletivas de fato ocorrem: os sociólogos Robert Bartholomew e Erich Goode detalharam como as crenças falsas ou exageradas em geral podem surgir de forma espontânea, espalhar-se rapidamente por uma população e temporariamente afetar uma região, cultura ou até mesmo uma nação inteira.

Crises econômicas

Em geral a conhecemos (imprecisamente) como ‘histeria coletiva’ e existem muitos fatores que contribuem para o nascimento e expansão de tais ilusões coletivas. Estas incluem os rumores, extraordinária ansiedade pública ou excitação coletiva, as crenças culturais ou os estereótipos compartilhados e a amplificação destes pelos meios de comunicação em massa, assim como algumas ações de reforço eventualmente realizadas por autoridades e formadores de opinião, tais como os ditadores, os políticos, a polícia ou até mesmo os militares.
Charles Mackay, o jornalista escocês e editor do jornal Illustrated London News, escreveu como o povo é sugestionável em seu livro de 1841, Extraordinary Popular Delusions and the Madness of Crowds (Memorando de extraordinários engodos populares e a loucura das multidões).


  O assunto que Charles Mackay descreve está claro que não consiste apenas de um tema acadêmico ou de sugestão para uma conversa interessante em alguma festa: há casos modernos de destruição de empregos, companhias e até economias. A crise financeira global, que agora reverbera em toda a economia mundial, começou com uma selvagem e irrestrita dívida que todo mundo sabia que era insustentável, uma vez que dependia dos endividados quitarem dívidas relativas a quantias que claramente estavam além das suas posses. Não seria isto uma massiva ilusão coletiva?

Tulipas muito, muito caras…

  Entre tempos de bonança e crises econômicas, em ciclos que temos entrado e saído tantas vezes, podemos ver que este mesmo comportamento ilusório entra em jogo repetidas vezes. Mackay nos recorda no capítulo 3 algo que é perturbadoramente familiar: no pico da “mania das tulipas”, nos Países Baixos, em fevereiro de 1637 os contratos de vendas futuras destas flores eram vendidos por mais de 10 vezes o salário anual de um hábil artesão e em algum ponto da crise ofereceram cinco hectares de terra em troca de um único bulbo da tulipa Semper Augustus. Vejamos mais detalhes a seguir:

O termo mania das tulipas ou ‘tulipamania’ é aplicado metaforicamente a qualquer bolha especulativa de grande escala, que passa da euforia ao pânico, até culminar em uma crise econômica. A expressão está ligada a um episódio da História dos Países Baixos: a crise das tulipas, gerada na República das Sete Províncias Unidas dos Países Baixos, durante o século XVII, quando um bulbo de tulipa passou a ser vendido pelo preço equivalente a 24 toneladas de trigo. O ápice dessa crise ocorreu entre 1636 e 1637. Charles Mackay conta uma história da época:
Um rico mercador havia comprado por 3.000 florins (~280 libras esterlinas) uma rara tulipa Semper Augustus que em algum momento desapareceu de seu depósito. Depois de vasculhar todo o depósito, ele viu um marinheiro, que havia confundido o bulbo da tulipa por uma cebola, comendo a tal tulipa. O marinheiro foi prontamente preso e passou seis meses na prisão.

Cruzadas

  Dos infrutíferos séculos de estudo sobre a transmutação de elementos em ouro até a queima de bruxas em Salem; Da loucura do século XVII em usar imãs para curar os males até as sangrentas campanhas militares de 200 anos das Cruzadas e seu impacto social, econômico e político de grande alcance – as ilusões coletivas tem sido uma constante ao longo da história humana.

Abduções Alienígenas?

  Mas estes fenômenos também entram em jogo de forma individual, desde os contos de abduções alienígenas (que são notavelmente similares as histórias de abduções por demônios em séculos passados) a relatos de cirurgias psíquicas e a ilusão pessoal de que a homeopatia cura os males. Em alguns casos, a ‘abduções’ poderiam ser explicadas através de uma enfermidade que apenas recentemente começamos a compreender: a paralisia do sono.

Somos “caçadores-coletores”?

Talvez não devêssemos nos surpreender com as nossas limitações. “Em nosso interior nós somos caçadores-coletores”, disse o físico Robert Park, autor do livro Superstition: Belief in the Age of Science (Superstição: as Crenças na Era da Ciência). “O cérebro que nos permite escrever sonetos e resolver equações diferenciais tem mudado pouco em 160.000 anos. A ciência nos tem transportado para um mundo repleto de viagens em jatos e com comunicação eletrônica, mas nosso cérebro permanece ainda conectado com os instintos dos nossos ancestrais selvagens que lucraram em sobreviver na selva do Pleistoceno”.
  
Para a alquimia, transmutação é a conversão de um elemento químico em outro. Este conceito pode também ser aplicado com características próprias na física nuclear. Desde os primórdios da alquimia ocidental, acreditava-se que era possível a transmutação de metais vis, como o chumbo, antimônio e bismuto em metais nobres, como a prata e o ouro. Com o florescimento do conhecimento científico, constatou-se que a transmutação alquímica, defendida pelos alquimistas, é impossível. Por outro lado, este fenômeno ocorre na natureza espontaneamente quando certos elementos químicos e isótopos possuem núcleos instáveis. Em tais elementos são produzidos fenômenos de fissão nuclear que se transformam em novos elementos de números atômicos inferiores, até que os seus núcleos se tornem estáveis. O fenômeno contrário, a transmutação em elementos de números atômicos maiores, dá-se em temperaturas e pressões muito elevadas, como as existentes no núcleo do Sol, onde o Hidrogênio se funde gerando o Hélio. O processo que ocorre no interior das estrelas é denominado de nucleossíntese estelar. 

O Mundo Assombrado pelos Demônios…

Mas existe uma esperança: e pode encontrá-la na ciência. No excelente livro The Demon Haunted World (O mundo assombrado pelos demônios – A ciência vista como uma vela no escuro) de 1995 sobre pensamento crítico e as ilusões que assolam a humanidade, Carl Sagan defende que o método científico e a clareza das idéias podem ajudar-nos a superar este pensamento obscuros.
Pensar de forma crítica e clara, disse Sagan: “é o meio… mediante o qual uma idéia profunda pode ser separada da profunda insensatez”. Defende que “é muito melhor aferrar-se ao Universo como este realmente é, que persistir em uma ilusão, não importa quão satisfatória e reafirmada esta seja”.
Além do método científico, Sagan oferece um conjunto de ferramentas para o pensamento crítico, que chamou ironicamente de “o Kit de detecção de camelos”: constrói um argumento racional baseado nas evidências e mantém-se aberto a reconhecer uma falácia ou um argumento fraudulento que contradiga as evidências existentes.

Navalha de Ockham

Busca uma confirmação independente de qualquer fato e quando as teorias tentam explicar exatamente as mesmas coisas, aplica-se a “Navalha de Ockham”: o princípio que disse que, ao tratar de se explicar um fenômeno, deve-se fazer as mínimas suposições possíveis, uma vez que em geral a explicação mais simples é a correta.
Sagan sugere formas de detectar “as falácias mais comuns da lógica e retórica” tais como aceitar um argumento simplesmente se baseando em que procede de alguém com autoridade ou acreditar em alguém que se baseia em estatísticas de uma amostra com poucos argumentos. Finalmente, a ciência não é uma resposta em si mesma, a ciência é uma ferramenta que ajuda a encontrar as respostas que nós buscamos.

Fontes

Cosmos Magazine:

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Mitos 2012: O Planeta X não é Nibiru

  Tendo em vista os diversos alertas e notícias falsas sobre tragédias a ocorrer no ano de 2012 alegando o suposto ‘fim do calendário Maia‘, estamos postando uma série de artigos para desmistificar esses cenários apocalípticos impossíveis. Esse é o segundo artigo que fala sobre o suposto Planeta X e sua alegada associação com o hipotético planeta Nibiru.


Planeta X não é Nibiru!

  Os limites exteriores do sistema Solar contêm muitos planetas anões ou plutóides ainda a serem descobertos. Desde que começou a busca pelo Planeta X no início do século XX, a possibilidade da existência de um hipotético planeta a orbitar o Sol além do Cinturão de Kuiper tem alimentado muitas teorias apocalípticas e especulações, tentando saber se, na realidade, o Planeta X é de fato um irmão binário do Sol perdido há muito tempo. Mas, qual é a razão para se temer a combinação Planeta X/’fim do mundo‘? Não seria o tal Planeta X apenas em um objeto hipotético, desconhecido e nada sinistro?

  Como discutimos no artigo “2012: Não haverá Planeta X“, os falsos profetas do apocalipse têm vinculado a busca atual do Planeta X à antiga profecia Maia de 2012 e ao mítico planeta sumério Nibiru, culminando com péssimas notícias para o dia 21 de dezembro de 2012. Entretanto, as evidências astronômicas para estas ligações têm sérios erros.

Vejamos a seguir os fatos reais…

  Em 18 de junho de 2008, cientistas em Kobe, Japão, anunciaram (um deles um brasileiro, Patryk Lykawka) que sua busca teórica de um grande corpo no Sistema Solar exterior havia produzido resultados. A partir de seus cálculos, poderia existir um planeta, possivelmente um pouco maior que um plutóide, mas certamente menor que a Terra, orbitando além de 100 UA do Sol. Mas antes que fiquemos entusiasmados, este objeto não é Nibiru e isto não é uma evidência do final do mundo em 2012. Trata-se de uma nova e apaixonante evolução na busca de planetas menores além do Cinturão de Kuiper…

  Em uma nova simulação teórica, os dois pesquisadores de Kobe deduziram que os confins mais distantes do Sistema Solar podem conter um planeta ainda não descoberto. Patryk Lykawka e Tadashi Mukai da Universidade de Kobe publicaram um artigo no Astrophysical Journal detalhando a tese sobre um planeta menor o qual eles julgam que poderia estar interagindo com o misterioso Cinturão de Kuiper.

Os Objetos do Cinturão de Kuiper (KBOs)


Concepção artística de Sedna (NASA). Corpos massivos, como Sedna, orbitam além da órbita de Plutão

  O Cinturão de Kuiper ocupa uma enorme região do espaço e dista cerca de 30 a 50 UA do Sol. Contém um vasto número de objetos rochosos e metálicos, sendo o maior objeto conhecido como o planeta anão (ou “plutóide“) Éris. Há muitos anos desconfia-se que o Cinturão de Kuiper tem algumas características estranhas que podem assinalar a presença de outro grande corpo planetário orbitando ao redor do Sol além do Cinturão de Kuiper. Uma de tais características é a bem conhecida anomalia chamada de “Falésia de Kuiper” que ocorre a 50 UA do Sol. Isto corresponde a um final abrupto do Cinturão de Kuiper uma vez que poucos objetos foram observados além deste ponto no Cinturão de Kuiper (os KBOs). Esta “falésia” não pode ser atribuída a ressonâncias orbitais com planetas massivos tais como Netuno, e não parece haver nenhum erro observacional óbvio. Muitos astrônomos crêem que um corte tão brusco na população dos KBOs pode ser causado por um planeta ainda não descoberto, possivelmente tão grande como a Terra. Este é o objeto que Lykawka e Mukai estimam ter encontrado em seus cálculos.

Os maiores TNOs (Objetos Trans-Netunianos) conhecidos



  Esta pesquisa japonesa estima que um grande objeto, com 30-70% da massa da Terra, orbita o Sol a uma distância de cerca de 100 a 200 UAs. Este objeto pode também ajudar a explicar por que alguns KBOs e objetos trans-netunianos (TNOs) têm algumas estranhas características orbitais (como Sedna).

  Desde que se descobriu Plutão em 1930, os astrônomos têm estado buscando outro corpo mais massivo que pudesse explicar as perturbações orbitais observadas nas órbitas de Netuno e Urano. Esta procura se conhece como a “busca do Planeta X“, o qual literalmente significa “a busca de um planeta ainda não identificado”. Na década de 1980 estas perturbações se catalogaram como erros observacionais. Por tanto, a procura científica atual do Planeta X é a busca de um grande KBO ou um planeta menor. Embora o Planeta X pode não ser maior que a Terra, os investigadores ainda estão entusiasmados com encontrar mais KBOs, possivelmente do tamanho de um plutóide, o tal vez um pouco maior, mas não muito mais.

  “Para mim, o interessante é a sugestão dos tipos de objetos interessantes que podem estar ainda esperando a ser descobertos no Sistema Solar exterior. Ainda estamos arranhando os limites dessa região do Sistema Solar, e espero que nos esperem muitas outras surpresas em futuras investigações mais profundas”, afirma Mark Sykes, Diretor do Instituto de Ciências Planetárias no Arizona.

O Planeta X não dá medo
Suposta órbita do hipotético objeto chamado Nibiru do livro “The Twelfth Planet (O décimo segundo planeta)” do profeta do apocalipse Zecharia Sitchin (www.sitchin.com)


  Então como é que Nibiru entrou no jogo? Em 1976, um controvertido livro conhecido como “The Twelfth Planet (O décimo segundo planeta)” foi escrito por Zecharia Sitchin. Sitchin havia interpretado alguns textos cuneiformes sumérios antigos (a primeira forma conhecida de escrita) como uma tradução literal da origem da humanidade. Estes textos de 6.000 anos de idade revelam aparentemente que uma raça alienígena conhecida como Anunnaki viajou para a Terra em um planeta denominado Nibiru. É uma longa e complexa historia, mas para abreviar, os Anunnaki se modificaram geneticamente os primatas da Terra para criar o homo sapiens para os transformarem em seus escravos. (Acabo de compreender de onde veio provavelmente o roteiro do filme Stargate de Kurt Russell em 1994).

  Quando os Anunnaki deixaram a Terra, nos permitiram governar o planeta hasta que retornassem. Tudo isto parece ser um pouco fantástico, e tal vez demasiado detalhado considerando-se uma tradução literal de unos textos de 6.000 anos de idade. O trabalho de Sitchin tem sido ignorado pela comunidade científica dado que muitos de seus métodos de interpretação são considerados como meramente imaginativos. Entretanto, muita gente tem tomado o trabalho de Sitchin literalmente, e crêem que Nibiru (em sua órbita altamente excêntrica ao redor do Sol) retornará possivelmente em 2012 para causar todo tipo de terror e destruição na Terra. É importante apontar que aqui não estou colocando em questão nenhuma evidência histórica, espiritual ou arqueológica de Nibiru, simplesmente estou apontando que o vínculo entre a teoria do ‘fim do mundo‘ do Planeta X em 2012 está baseado em “descobertas” astronômicas muito duvidosas. Se este é o caso, como se pode considerar o Planeta X a personificação de Nibiru?

  Em 1984, chegou enfim a “alegada descoberta de uma anã marrom no Sistema Solar exterior” por parte do IRAS e o “suposto anúncio da NASA de um planeta de 4-8 massas terrestres viajando até a Terra” em 1993. Os profetas do apocalipse (que andam sempre acompanhados de um livro para nos vender) se agarraram nessas hipóteses astronômicas alegando que são provas de que Nibiru é de fato o famoso Planeta X, aquele que os astrônomos têm procurado arduamente durante o último século. Não apenas isso, manipulando os fatos destes estudos científicos, eles “demonstraram” que Nibiru está viajando na nossa direção e em 2012 este corpo massivo passará através do Sistema Solar interior, causando todo tipo de danos gravitacionais. Para maiores detalhes sobre este tema leia “2012: Não haverá Planeta X “.

  Em sua forma mais pura, o Planeta X é teoricamente um possível planeta desconhecido que orbita pacificamente além do Cinturão de Kuiper. Se o anúncio dos cientistas de Kobe, Japão, nos leva a observação de um novo planeta ou plutóide, tal achado será uma descoberta incrível que ajudará a entender mais sobre a evolução planetária do Sistema Solar e as características dos misteriosos limites exteriores do Sistema Solar.

  Posso garantir que os profetas do apocalipse já estão adaptando esta nova investigação para usá-la como apoio de suas teorias sem sentido de que o Planeta X é de fato Nibiru, e que esse objeto virá em nossa direção em 2012. Por que será que temos o sentimento de que ainda seguiremos aqui discutindo sobre o Planeta X em 2013?

Perguntas e respostas sobre o mito de Nibiru e o fim do mundo em 2012

  Committee for Skeptical Inquiry (inglês): The Myth of Nibiru and the End of the World in 2012

  David Morrison é cientista do Instituto de Astrobiologia da NASA, onde, entre outras responsabilidades, responde as perguntas recebidas via internet “Pergunte a um astrobiólogo“. Morrinson é membro do Comitê de Investigação Cética (CSI – Committee for Skeptical Inquiry) e autor de numerosos livros e artigos. Morrison é um dos homenageados com a Medalha Carl Sagan da Sociedade Astronômica Americana por suas contribuições à compreensão pública da ciência.

AstroPT: 2012 – Fim do Mundo

Mitos 2012: Não haverá inversão dos pólos magnéticos da Terra

  Tendo em vista os diversos alertas e notícias falsas sobre tragédias a ocorrer no ano de 2012 alegando o suposto ‘fim do calendário Maia‘, postamos aqui uma série de artigos para desmistificar esses cenários apocalípticos impossíveis. Esse é o quinto artigo que fala sobre a suposta inversão dos pólos magnéticos da Terra prevista pelos falsos profetas do apocalipse a acontecer em 2012.




2012: Não haverá inversão geomagnética na Terra!



  Aparentemente, em 21 de dezembro de 2012, nosso planeta experimentará um poderoso evento. Desta vez não estamos falando do Planeta X, Nibiru ou de uma tempestade solar “assassina”, este evento que citamos agora terá suas origens nas profundezas do núcleo do nosso planeta, forçando uma mudança catastrófica em nosso campo magnético protetor. Não apenas notaremos uma rápida redução na força do campo magnético como também nós veremos como os pólos magnéticos irão reverter rapidamente sua polaridade, isto é, o pólo norte magnético se deslocará para o pólo sul geográfico e vice-versa. Então, o que tal cenário significa para nós? Se nós acreditarmos nos falsos profetas do apocalipse, estaremos então expostos a vastas quantidades de radiação emitida pelo Sol em 2012.
 
Raios Cósmicos - Crédito: Simon Swordy (U. Chicago), NASA


  Com uma inversão do campo magnético terrestre também haverá um enfraquecimento na capacidade da Terra em desviar os raios cósmicos. Nossa armada de satélites de comunicação e militares sofrerá graves problemas, tais como a queda em suas órbitas, adicionando caos ao cenário. Sofreremos distúrbios sociais, guerras, fome e um colapso econômico global. Sem GPS, nossas linhas aéreas também se arrebentarão contra o solo…


  Usando as Profecias Maias como desculpa para criar novas e explosivas formas nas que nosso planeta poderá ser destruído em 2012, os profetas do apocalipse usam a teoria do deslocamento geomagnético como se a mesma fosse uma verdade absoluta e inquestionável. Essa atitude é simplesmente devida ao fato que os cientistas estimaram que mudanças na polarização magnética terrestre talvez pudessem acontecer dentro de alguns milhares de anos. Para os falsos profetas, todavia, tal parece evidência suficiente de que ocorrerá nos próximos quatro anos. Desgraçadamente, embora a teoria das migrações nos pólos magnéticos tenha real respaldo científico, como veremos mais a frente aqui, não há hoje nenhuma forma ou técnica com a qual alguém possa afirmar que uma inversão geomagnética terá lugar nos próximos dias ou nos próximos milhões de anos…

  Primeiro, devemos diferenciar os conceitos de “inversão geomagnética” e “mudança polar”. A “inversão geomagnética” é uma mudança no campo magnético da Terra que se dá quando o pólo norte magnético desloca-se para o pólo sul geográfico e vice-versa. Quando tal processo se completar as nossas bússolas passariam a apontar para Antártida, no pólo-sul geográfico, como o sendo o pólo norte ao invés do nordeste do Canadá. Por por outro lado, as “mudanças polares” (a mudança física dos pólos geográfficos) são eventos incomparavelmente menos freqüentes, que provavelmente ocorreram raríssimas vezes dentro escala de tempo do Sistema Solar (cerca de 4,55 bilhões de anos). Há exemplos de planetas que sofreram uma mudança polar catastrófica: Vênus (que gira na direção oposta do resto dos planetas por ter sido golpeado por um evento descomunal, tal como uma colisão com um planeta errante – veja as razões aqui em “Qual a razão do movimento retrógrado de Vênus?“) e Urano (o qual gira de lado, com seu eixo deslocado por um impacto cataclísmico, ou algum efeito gravitacional extremo causado por Júpiter e Saturno). Muitos autores (incluindo os próprios profetas do apocalipse) citam freqüentemente esses dois cenários notadamente distintos, inversão geomagnética e mudança polar, como sendo a mesma coisa, o que está totalmente errado. Tendo esclarecido esse ponto, vamos então tratar a seguir do cenário: “inversão geomagnética“.

Qual é a freqüência das ocorrências do fenômeno da inversão geomagnética?

Vejamos:


  As razões inerentes à inversão dos pólos magnéticos não são plenamente entendidas, mas esse cenário se relaciona tão somente à dinâmica interna do planeta Terra. Conforme nosso planeta gira, o núcleo interior de ferro fundido flui livremente, forçando os elétrons livres a acompanhar sua movimentação. Este movimento convectivo de partículas eletricamente carregadas cria um campo magnético que tem seus pólos situados nas regiões polares norte e sul (um dipolo) do planeta. Isto é conhecido como o efeito dínamo. O campo magnético resultante se comporta aproximadamente como um ímã, permitindo que o campo magnético envolva o nosso planeta.

  Este campo magnético passa através do núcleo até a crosta terrestre e segue até o espaço formando a magnetosfera, uma bolha protetora que é constantemente perturbada pelo vento solar. Uma vez que as partículas do vento solar são iônicas (carregadas eletricamente), a potente magnetosfera da Terra desvia essas partículas, só permitindo sua chegada nas cúspides polares, onde as linhas do campo magnético se “abrem”. Nessas regiões específicas as partículas energéticas tem sua entrada permitida e brilham formando as auroras.

  Normalmente, esta situação pode durar por éons (o campo magnético estável entrelaçado através das regiões polares norte e sul), mas sabemos que ocasionalmente o campo magnético terrestre se inverte e altera sua intensidade.

Por que ocorre a inversão geomagnética?

Gráfico que mostra as inversões de polaridade da Terra a o longo dos últimos 160 milhões de anos. Negro = polaridade normal, branco = polaridade invertida. Fonte: Lowrie (1997)



  Simplesmente nós não conhecemos as causas reais. O que sabemos é que estas mudanças de pólos magnéticos têm ocorrido algumas vezes nos últimos milhões de anos. A última reversão teve lugar há 780.000 anos, de acordo com as evidências mostradas nos sedimentos ferromagnéticos. Alguns artigos alarmistas têm dito que as inversões geomagnéticas ocorrem com uma “regularidade de um relógio” – isto simplesmente é mentira. Como se pode ver no diagrama (acima), as inversões magnéticas têm acontecido de forma bastante caótica nos últimos 160 milhões de anos. Os dados de longo prazo sugerem que o período mais longo de estabilidade entre inversões magnéticas durou quase 40 milhões de anos (durante o período Cretáceo que tem cerca de 65 milhões de anos) e o mais curto demorou algumas centenas de anos.

  Algumas teorias do apocalipse em 2012 sugerem que a inversão geomagnética da Terra está conectada com o ciclo solar natural do Sol de 11 anos. De novo, não existe nenhuma evidência científica que apóie esta afirmação. Não há nenhuma informação disponível que associa alguma ligação da mudança de polaridade magnética da Terra com o Sol.

  Assim, novas versões das teorias do apocalipse já estão falando que as inversões geomagnéticas não acontecem com a “regularidade de um relógio”, e não existe conexão com a dinâmica solar. Na verdade, não se espera uma inversão magnética dado que não podemos predizer quando se produzirá a próxima, as inversões magnéticas têm lugar em pontos aparentemente aleatórios de nossa história, conforme os registros históricos de levantamentos geológicos dos sedimentos ferromagnéticos.

O que causa a inversão geomagnética?

A Terra modelada: podemos simular em laboratório o campo magnético terrestre? (Flora Lichtman, NPR)




  A pesquisa para tentar compreender a dinâmica de nosso planeta continua em andamento. Conforme a Terra gira, o ferro fundido de seu interior é agitado e flui de forma estável durante milênios. Por alguma razão durante uma inversão magnética, algumas instabilidades causam uma interrupção da geração estável do campo magnético global, provocando uma mudança de pólos.

  Em um artigo anterior na Universe Today, discutimos os esforços do geofísico Dan Lathrop por criar o seu próprio “Modelo da Terra“, configurando uma bola de 26 toneladas (que continha um elemento análogo do ferro fundido, o sódio) que girava para se ver se o movimento do fluido interno poderia gerar um campo magnético. Este enorme experimento de laboratório é o testamento dos esforços postos na compreensão de como a Terra gera seu campo magnético além da razão do mesmo se inverter aleatoriamente.

  Uma visão minoritária (a qual, novamente, tem sido usada pelos profetas do apocalipse para vincular as inversões geomagnéticas com o Planeta X) é que pode haver algumas influências externas que causem as inversões. Você verá com freqüência associações destas afirmações com a suposta existência do Planeta X/Nibiru, de forma que quando este misterioso objeto se encontrar dentro o Sistema Solar interior durante sua órbita altamente elíptica, a perturbação do campo magnético poderia alterar a dinâmica interna da Terra (e do Sol, gerando possivelmente a tempestade solar “assassina”). Esta teoria é uma fraca vontade de vincular os cenários dos falsos profetas do apocalipse com um precursor comum do ‘fim do mundo‘ (quero dizer, o Planeta X). Não há razão para pensar que o potente campo magnético da Terra possa ser influenciado por qualquer força externa, muito menos por um planeta inexistente.

A força do campo magnético cresce e decresce…

As variações no campo geomagnético no oeste dos Estados Unidos desde a última inversão. A linha pontilhada vertical indica o valor crítico de intensidade baixo o qual Guyodo e Valet (1999) consideram que têm tido lugar várias excursões direcionais.


  Publicou-se recentemente um artigo contendo novas investigações sobre o campo magnético da Terra, no exemplar de 26 de setembro da revista Science, sugerindo que o campo magnético da Terra não é tão simples como se acreditava. Além do dipolo norte-sul, existe um campo magnético mais débil e disperso por todo o planeta, provavelmente gerado no núcleo externo da Terra.

  Têm-se medido variações de força no campo magnético da Terra e é bem conhecido o fato de que a força do campo magnético atual está passando por uma fase com tendência de redução. O novo artigo de pesquisa, co-escrito pelo geocronólogo Brad Singer da Universidade de Wisconsin, sugere que um campo magnético mais débil é crítico para a inversão geomagnética. Se o dipolo mais potente (norte-sul) tem sua força de campo magnético reduzida para um nível inferior de intensidade, comparada com a do campo magnético distribuído, normalmente mais débil, a inversão geomagnética torna-se viável.

  “O campo nem sempre é estável, a convecção e a natureza do fluxo se alteram, e isto pode provocar que o dipolo gerado aumente ou diminua de intensidade e força”, disse Singer. “Quando o campo magnético se torna fraco, este fica menos capaz de alcançar a superfície da Terra e o que começamos a ver surgindo é este dipolo não axial, a parte mais fraca do campo magnético”. O grupo de pesquisa de Singer analisou amostras antigas de lava de vulcões no Taiti e Alemanha originadas entre 500.000 até 700.000 anos atrás. Observando um mineral rico em ferro presente nessa lava, denominado magnetita, os investigadores foram capazes de deduzir a direção do campo magnético.

  O giro dos elétrons na magnetita é governado pelo campo magnético predominante na ocasião que a lava foi produzida pelos vulcões. Durante as épocas em que o potente campo dipolar domina, estes elétrons apontam na direção do pólo norte magnético. Durante as épocas em que o campo dipolar se enfraquece, os elétrons apontam para onde estiver o campo dominante, neste caso o campo magnético distribuído. Os cientistas acreditam que quando a intensidade do campo magnético dipolar debilitado cai abaixo de certa faixa de valores, o campo magnético distribuído empurra o campo dipolar para fora do seu eixo original, provocando uma inversão geomagnética.

  “O campo magnético é uma das características mais fundamentais da Terra”, disse Singer. “Mas ainda é um dos maiores enigmas da ciência. A razão disso acontecer [a inversão geomagnética] é algo que a gente tem questionado durante mais de cem anos”.

O movimeneto do polo norte magnético terrestre através do Artico do Canadá.

Os errantes pólos magnéticos


  Embora pareça haver uma tendência atual para uma diminuição da força do campo magnético, a intensidade corrente do campo magnético tem sido considerada acima da média quando a comparamos com as variações medidas na história recente. De acordo com os pesquisadores na Scripps Institution of Oceanography , São Diego, se o campo magnético continuar na sua tendência de queda atual, o campo dipolar será efetivamente zerado em cerca de 500 anos. Não obstante, é mais provável que a força do campo magnético simplesmente se reinicie e aumente sua intensidade como tem sido usual nos últimos milhares de anos, continuando com suas flutuações naturais.

  As posições dos pólos magnéticos, como sabemos, estão dando voltas sobre as localidades no Ártico e na Antártida. Tomando o pólo norte magnético, por exemplo, (no desenho da esquerda) vê-se que a posição do pólo tem se descolado de forma acelerada sobre as planícies do norte de Canadá com velocidade variando de 10 quilômetros por ano no século XX até 40 quilômetros por ano em medições mais recentes.

  Pensa-se que se esta tendência persistir o eixo norte irá deixar a América do Norte e penetrar na Sibéria dentro de algumas décadas. Este, todavia, não é um fenômeno novo. Desde a descoberta de James Clark Ross da posição efetiva do pólo norte magnético em 1831, sua posição tem vagado por centenas de quilômetros (embora as médias atuais tenham mostrado alguma aceleração adicional).

Então, haverá ou não o ‘Fim do Mundo’ ?

  As inversões geomagnéticas são uma área fascinante da pesquisa geofísica que continuará ocupando os físicos e geólogos durante muitos anos à frente. Embora a dinâmica por trás deste evento não seja entendida por completo, não há absolutamente nenhuma evidência científica que apóie a afirmação de que poderia haver uma inversão geomagnética em torno de 21 de dezembro de 2012.

  Além disso, os efeitos de tais inversões têm sido totalmente super enfatizados. Se por acaso venhamos a experimentar uma inversão geomagnética ao longo de nossas vidas (o que possivelmente não acontecerá), é improvável que sejamos assados vivos pelo vento solar ou aniquilados pelos raios cósmicos.


Simulação da interação entre o campo magnético terrestre e o campo magnético interplanetário (solar). O campo magnético da Terra protege nosso planeta do vento solar, desviando as partículas ionizadas ejetadas pelo Sol.



  É improvável que soframos qualquer evento de extinção massiva (afinal, o homem primitivo, o homo erectus, sobreviveu à última inversão geomagnética, aparentemente sem sofrer danos). Provavelmente iremos  experimentar a visão de auroras em todas as latitudes, enquanto o campo magnético dipolar se assenta em seu novo estado invertido, e poderá haver um pequeno incremento no bombardeio das partículas energéticas espaciais, os raios cósmicos (lembre-se que o simples enfraquecimento da magnetosfera, não implicará que não iremos mais ter a proteção magnética). Fora isso, nós estaremos (muito bem) protegidos pela nossa espessa atmosfera.

Os satélites poderão até passar por falhas e os pássaros migratórios ficarão confusos, mas prever a ocorrência de um colapso mundial é uma história difícil de engolir.

Conclusão:

  As inversões geomagnéticas são de natureza caótica. Não há forma de prevê-las com antecedência.

  Simplesmente porque o campo magnético da Terra se enfraquece tal não significa que estamos perto do momento de um colapso. O valor da intensidade do campo geomagnético da Terra está “acima da média” se comparamos as medidas atuais com as dos últimos milhões de anos.

  Os pólos magnéticos não estão fixos em umas posições geográficas, os pólos se movem (em velocidades variáveis) e tal movimento têm acontecido desde que se iniciaram as medidas de seus comportamentos.

  Não existem provas que apontem para uma força externa afetando a dinâmica geomagnética interna da Terra. Assim, não há nenhuma prova de uma conexão das inversões geomagnéticas com as do ciclo solar. E não venham falar do Planeta X também…

  Considerando tudo isso, podemos acreditar que haverá um evento de inversão geomagnética em 2012? Eu julgo que não.

  De novo vemos como outro cenário apocalíptico de 2012 fala de muitas formas. Não há dúvida que as inversões geomagnéticas terão lugar algum dia no futuro da Terra, mas estamos falando de escalas de tempo variando de otimistas 500 anos (improvável) até milhões de anos e certamente não nos próximos quatro anos…

Fontes e referências

AstroPT: 2012 – Fim do Mundo